Uma das partes mais bacanas e essenciais pra se compreender a cultura de um povo ou país são suas histórias e suas lendas.

Aqui no Brasil temos muita diversidade cultural e nossas lendas não poderiam ser diferentes, né? Dia 22 de agosto é comemorado o dia do folclore brasileiro, e nós aqui do aiq. estamos celebrando várias coisas da nossa cultura (não só a comida 😁), e entre elas estão nossas lendas folclóricas!

E não querendo ser clubista (mentira, sou sim!), mas o folclore brasileiro não fica atrás de nenhuma mitologia grega ou nórdica não, viu?!

Nossa própria mitologia é cheia de personagens e criaturas que todos conhecem ou já ouviram falar… Mas será que todo mundo sabe qual a origem dessas histórias?

Confira nesse post a origem por trás de alguns dos maiores personagens do folclore brasileiro!

 

A lenda do curupira

Um dos personagens mais famosos do folclore brasileiro, o curupira é, em quase todas as suas interpretações, o guardião da floresta, protegendo sua fauna e flora de todos que buscam destruí-la.

Sua interpretação visual é bem consistente: ele se parece com um garoto pequeno, tem cabelos vermelhos como brasas de fogo e tem os pés ao contrário, com os calcanhares para frente, e tem uma excepcional força física.

Alguns detalhes de sua aparência variam um pouco: algumas interpretações dizem que ele tem o corpo verde, em outras ele tem olhos verdes, em algumas ele é careca, em outras é extremamente peludo com cabelos vermelhos.

Sendo o protetor das florestas, a lenda do curupira aterrorizava os povos indígenas, que ofereciam presentes a ele como pedidos de desculpas e de proteção.

Muitas vezes interpretado como sendo travesso, ele se disfarçaria de um animal selvagem para atrair caçadores que eventualmente se perdiam no meio da floresta, procurando por animais e se confundindo pelas pegadas ao contrário.

 

A origem do curupira

A lenda do curupira é tão antiga quando o próprio Brasil, com alguns relatos a partir do século XVI.

Não se sabe ao certo de qual povo indígena a história se originou, mas os portugueses também passaram essa história adiante, temendo a punição do curupira por sua exploração do território brasileiro. Isso fez com que a história fosse difundida por todo o Brasil e seja difícil traçar sua origem exata.

O nome curupira é de origem tupi-guarani, mas outros povos têm nomes diferentes para a criatura, como caipora. Alguns especialistas acreditam que a lenda começou com os povos nauas no norte, mas isso não é comprovado.

 

A lenda do Saci-Pererê

Outra das nossas lendas mais clássicas e famosas, o saci-pererê é considerado um mestre das travessuras e das brincadeiras. Ele se diverte zoando pessoas e animais, roubando objetos e assustando as pessoas com seu assobio.

Algumas de suas zoeiras favoritas incluem trocar os temperos de cozinheiras pra causar desastres na cozinha e amarrar pelos de animais.

Além disso, ele também é considerado como o guardião de ervas e plantas medicinais. As pessoas que pegam ervas e plantas da florestas sem a autorização do saci sempre são alvos de suas brincadeiras (mas ele nunca chega a ser violento).

Seu visual é clássico e sem muitas variações: o saci é retratado como um menino negro de uma perna só, que fuma cachimbo e usa um gorro vermelho (chamado também de carapuça) que o garante poderes mágicos pra realizar suas brincadeiras. No entanto, esse visual foi uma construção a partir de várias influências!

 

A origem do saci-pererê

Os primeiros relatos de supostas aparições do saci se dão por volta do século XVIII, ao fim do período colonial.

O nome saci vem do tupi, representando um pássaro. A história é difundida entre outras tribos, que tem seu próprio nome para o saci.

Nas suas primeiras lendas, no entanto, o saci não era como o conhecemos hoje. Seus relatos iniciais eram de um garoto mais parecido com um demônio, que tinha as duas pernas e um rabo.

Quando o mito foi difundido pelo norte, recebeu muita influência da cultura africana: ele passou a ser retratado como um menino negro e sem uma perna, além de ter adotado seu famoso cachimbo. As histórias até dizem que ele teria perdido a perna enquanto praticava capoeira!

Outra influência gigante na lenda do saci veio com os portugueses. O saci só começou a ser retratado com seu gorro vermelho pela influência do folclore português.

No folclore de Portugal existe um personagem chamado Trasgo, que também usa um capuz vermelho e é conhecido por ser travesso e atormentar as pessoas e animais apenas por diversão.

Imagina o desespero dos portugueses ao saírem de Portugal, deixando o trasgo pra trás, só pra descobrir que tinha uma criatura pra atormentar eles por aqui também!

Sendo assim, a história do saci no folclore brasileiro é uma mistura das mais diversas culturas — indígena, africana e portuguesa — sendo um verdadeiro representante da salada cultural que é o nosso país!

Ah, e o dia do halloween (31 de outubro) também é o dia do saci!

 

A lenda do boitatá

Outra das lendas mais antigas do folclore brasileiro, na maioria das interpretações o boitatá é uma criatura que protege as florestas dos incêndios e pune aqueles que causam queimadas.

O boitatá tem diferentes interpretações em diferentes regiões do Brasil, mas na maior parte das histórias ele é retratado como uma cobra com seu corpo coberto em chamas.

 

A origem do boitatá

A versão mais difundida do boitatá e, provavelmente, a que mais retrata como ele é lembrado hoje no folclore brasileiro, é a que foi contada pelos textos dos jesuítas.

Os povos indígenas teriam alertado a eles sobre o boitatá, uma cobra gigante coberta em fogo e com olhos de fogo. Ele poderia ser visto deslizando perto dos rios, e seu fogo mágico não seria capaz de incendiar a floresta ou apagar com a água, apenas queimar aqueles que danificam a floresta.

Essa versão da lenda também dizia que o boitatá se disfarçaria de um tronco em chamas, para atrair a atenção de lenhadores e caçadores na floresta. Também era dito que não se devia olhar diretamente nos olhos de fogo do boitatá, que poderiam levar uma pessoa a cegueira, a loucura e até a morrer.

Nas regiões do norte e do nordeste, no entanto, o boitatá é um morador de rios e lagos, que só sai da água para atacar aqueles que causam queimadas. Ele também seria uma manifestação do espírito de pessoas malignas, condenadas a rastejar como uma cobra para pagar pelos seus pecados na terra.

Regiões do sul do Brasil tem interpretações ainda mais diferentes! Em algumas histórias, o boitatá não é uma cobra mas sim um touro gigante com um terceiro olho na testa, que também brilha como chamas.

Em outras histórias originadas do sul, o boitatá tem origem bíblica! Após o grande dilúvio na terra, vários animais teriam morrido, deixando as cobras muito felizes pois teriam muito alimento. Como punição divina em terem ficado felizes com as mortes dos animais, seus corpos pegaram fogo depois de comerem as carnes dos animais mortos, iluminando os corpos das cobras.

Independente da sua origem, os relatos do boitatá provavelmente iniciaram com o fenômeno dos incêndios espontâneos em florestas (conhecidos também como fogo-fátuo).

Imagine então pessoas explorando uma floresta quando encontram um tronco que entrou em chamas espontaneamente e pronto: você tem uma visão potencialmente assustadora e que virou lenda.

 

A lenda da Cuca

Outra lenda extremamente popular, a cuca é descrita como sendo uma mulher velha com cabeça de jacaré, escamas pelo corpo e uma voz assustadora. Ela funciona como um bicho-papão, assustando e aterrorizando as crianças que desobedecem seus pais.

A lenda diz que a cuca só dorme uma vez a cada sete anos e procura crianças a noite. Essa história era usada para que as crianças fossem dormir cedo e não ficassem acordadas a noite inteira (e como que conseguem dormir com medo de serem devoradas? 👀).

Os primeiros relatos da cuca no Brasil foram durante o período colonial, mas a cuca só ficou extremamente popular no folclore brasileiro após sua aparição clássica no Sítio do Pica-pau Amarelo, que introduziu sua descrição visual como é hoje. No entanto, a origem da cuca que conhecemos vem de muuuuuito longe!

 

A origem da cuca

Como inspiração para a personagem, Monteiro Lobato (o escritor e criador do Sítio do Pica-pau Amarelo) se inspirou na lenda da coca, uma criatura do folclore galego-português.

Essa lenda veio para o Brasil na época da colonização, sendo retratada como um dragão, bruxa ou fantasma que devorava crianças desobedientes. Na mitologia galego portuguesa, a coca é o dragão que São Jorge matou.

A lenda da coca também é difundida pela Espanha, onde o monstro mais se parece com uma tartaruga que com um jacaré, mas que também se alimenta de crianças travessas.

A representação de Monteiro Lobato então se consolidou no Brasil, dando forma a versão mais famosa da lenda e a canções de ninar como “Nana neném”.

A nossa querida Tarsila do Amaral também ajudou a popularizar a história, com seu quadro “A Cuca”.

E não, não parece que tem conexão entre a cuca de folclore e a tortinha de frutas que chamamos de cuca (mas dá pra você continuar acreditando que tem).

 

E aí, você já conhecia essas histórias? Temos que valorizar nossa história, né meu bem? Afinal, nossa cultura não é só nossa comida não! Sabe de mais alguma curiosidade dos personagens do folclore brasileiro? Comenta aí com a gente!

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